sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crítica de material de apoio à leitura de imagem

                            Menina Sentada- Cândido Portinari,
                            1943,óleo s/tela


           Análise de material de apoio à Leitura de Imagens

Material selecionado do endereço abaixo, acesso em 15 /05/2011
Guia do Professor:
Entre as 32 obras mostradas na "Galeria", quatro foram selecionadas para fazer parte deste "Guia do Professor". Elas apresentam três temas diferentes: natureza-morta, paisagem e figura humana e foram realizadas nas décadas de 30, 40 e 50.

Este guia foi elaborado para professores que trabalham com alunos na 1ª fase do 1º grau, e contêm uma síntese biográfica do artista, descrição da obra, observações a serem levantadas pelos professores junto a seus alunos e sugestões de atividades.

Tema Figura Humana

Observações:
1-Observar com os alunos o fundo e a figura dentro da obra. O fundo sugere que o artista quis mostrar uma cena diurna ou noturna? O que sugere a figura da menina na obra? Qual o sentimento que a expressão da menina transmite?
2. Pedir que os alunos descrevam os tons de azul que o artista usou para representar o céu. Há outras cores diferentes de azul no céu?
3. Observar a aposição da assinatura no quadro. Em que data ele foi pintado? Com que finalidade o artista assina o quadro?
Sugestões:
1. Dividir a turma em pares. Explicar que eles irão brincar de "pintor e modelo". Pedir que escolhessem qual o personagem que querem desempenhar e em seguida peça que os que decidiram serem os modelos coloquem-se em pose e os que decidiram serem os pintores, peguem seus materiais, observem bem seus modelos e comecem a desenhar ou pintar, de acordo com a sua própria interpretação. Marcar o tempo que achar necessário para a atividade e quando o tempo estiver esgotado, pedir que os "pintores" venham em frente da turma para apresentarem os seus trabalhos. Estimular os alunos a descrever e comentar os trabalhos em geral.
2. Mostrar o quadro, pedir que observem a figura da menina e em seguida escrevam uma ou duas frases sobre o que viram. Estabelecer um tempo para concluírem a atividade e apresentarem oralmente o que escreveram.
3. Dividir a turma em grupos. Pedir que cada grupo escreva em um pedaço de papel o maior número de adjetivos que eles poderão usar para descrever a menina. Chamar um aluno de cada grupo para, na frente da turma, ler os adjetivos que encontraram.

O material para análise foi escolhido aleatoriamente, buscando uma oportunidade de refletir os nossos estudos sobre a Leitura de Imagens. Compreendemos a importância de oportunizarmos aos nossos alunos situações que possam ampliar seu vocabulário estético onde a leitura possa ter a finalidade de contraponto , o diálogo entre a “verdade” da obra ( o que o artista pensou ao criar a obra) e a “verdade” de cada um que a interpreta.A importância da leitura de imagens em sala de aula também torna-se imprescindível considerando a cultura vivida pelos alunos de hoje, num universo visual intenso.Ana Mae Barbosa (1995) diz que a leitura de imagens na escola prepararia as crianças para a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na aula de artes ou no cotidiano, e que torná-las conscientes “ da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-las para compreender e avaliar todo o tipo de imagem, conscientizando-as do que estão aprendendo com estas imagens” .(p. 14).

O Material destina-se a professores que trabalham com anos iniciais (1ª fase do 1º Grau), informação especificada no início do “Guia do Professor”.

A imagem escolhida com o tema “Figura Humana” é, Menina Sentada e a identificação da obra (abaixo) é escrita com detalhes por extenso sem abreviações, o que penso ser uma estratégia para facilitar a “leitura” das crianças que a material se refere. Acho um detalhe importante, principalmente pelo acesso virtual, neste momento.

Menina Sentada é uma pintura com tinta a óleo sobre tela de tecido. Feita em 1943, tem 74 centímetros de altura por 60 centímetros de largura.

Continuando a abordagem o material propõe uma “história de obra” (abaixo). Nesta caso a Menina Sentada é a “Moreninha” em versos.Crianças de anos iniciais não estariam em condições desta interpretação considerando seu nível de compreensão estética:

Namoro de criança é poesia que transborda. Amei muitas primas

Como poesia transborda? Criança namora? Quem ama muitas primas? Ou outras questões seriam levantadas nesta construção. Penso que poderíamos propor uma construção da “história” que pudesse ser elaborada pela interpretação dos alunos em foco. As perguntas ao texto são geradas nos contextos por eles vivenciados, e nós professores precisamos , então atentos para estas questões.Os alunos dos anos iniciais estabelecem um relação da imagem com mundo nela representado,pois acreditam que a obra é a representação do mundo, das coisas reais.Por exemplo , nesta imagem o que poderia fazer parte da história da obra, seria sobre a menina triste estar triste, ou ser pobre ou ter um fato anterior que determinasse a cena, uma narrativa .
O material possui uma galeria onde podemos ver outras obras com a mesma dinâmica desta em estudo. As obras estão organizadas com dados por extenso também e contemplando uma linha do tempo da produção de Portinari.Importante a organização se pudermos estabelecer algumas conexões com a interferência do professor, caso contrário torna-se somente uma visualização de “épocas” sem maiores relevâncias.

A sugestão específica de “leitura” que o material sugere, coloca algumas perguntas conforme material anexado no início.

Considerando o enfoque para" anos iniciais”, podemos apontar como negativo algumas perguntas que estariam facilitando o desenvolvimento da compreensão estética destes alunos enquanto desconsideram o “nível de idéias” que estão alunos se inserem. As perguntas iniciais para introduzir um diálogo com a crianças e a obra, deverão abordar a imagem , estimulando a atividade mas também respeitando as variações de relações “imagens-mundo” característica do pensamento estético deste nível .As características da narrativa,a interpretação primeira relacionada ao concreto,a atribuição do sentido referencial na imagem e os atributos do mundo, num julgamento moral e estético numa fusão,seriam as idéias utilizadas por crianças dos anos iniciais (até 11 ou 12 anos) embora possamos ter interpretações diferentes diante da familiaridade com a discussão estética desde a educação infantil.

Maria Helena Wagner Rossi, 2003 diz que o sentido referencial aparece na leitura dos alunos de séries iniciais na mesma proporção que a narrativa, em muitas vezes encontram-se juntos. Este vínculo tende a desaparecer nos alunos com familiaridade com artes no final do ensino fundamental, enquanto em contextos carentes de leitura estética, continua existindo.(p.65)

A ênfase dada em algumas perguntas coloca os elementos formais como prioridade, como a relação figura/fundo, tons de azul ou outros. Também questiona-se sobre a data da produção da obra e qual a finalidade do artista ter pintado.Estes recursos expressivos que dão forma à imagem são importantes como análise quando esse conteúdo pode nos ajudar a ler a obra de maneira melhor, mais ampla, mas esta não é a realidade das crianças dos anos iniciais, a que este material se destina.As idéias que fazem parte da compreensão estética destes alunos não “usaria” estas informações em suas interpretações.Este contexto formal e histórico teria importância quando o aluno estivesse usando pensamentos de nível mais avançado de familiaridade com arte e com a discussão estética.O processo de leitura entendido como compreensão deverá ser resultado de interpretação, e então nós professores, não podemos impor idéias que possam “induzir” esta interpretação.Em algumas situações(pouca familiaridade com arte) ou alunos entendem a imagem como cópia do mundo, não podemos admitir perguntas de como foi feita a obra, mas nos interessa o que está na obra.

“(...) ao longo do ensino primário se assiste a um aumento dos comentários acerca do realismo e não acerca dos restantes aspectos formais. O que conta não é aquilo de que nos apercebemos, mas aquilo que para nós faz sentido” (Parsons, p. 66)

Outras perguntas que não estariam auxiliando a compreensão dos estudantes presentes neste material:

O que sugere a figura da menina na obra? Nossos pequenos leitores poderiam responder que viam uma menina triste na obra? Uma menina pobre?Muitas respostas vinculadas ao concreto e imagens de referência seriam as respostas provavelmente em anos iniciais.

Qual o sentimento de expressão da menina? A resposta deste leitor seria de narrar algo e novamente fazer referência a outras construções, mas ainda não poderiam responder sobre “sugerir sentimentos”

O material em estudo fornece ainda, sugestões de algumas ações: A primeira trata-se pintor e modelo, onde pares se retratam alternadamente. A idéia de socializar a criação com os demais , pensamos como positiva pois convívio com outras produções e a socialização das suas torna-se sempre importante para nós professore como instrumentos de avaliações de processos na construção do conhecimento, pois podemos observar intensamente e evolução, ou não de cada interpretação e as causas das diversas interferências .

Sobre a sugestão número dois, trata-se de uma descrição que pode ser “usada” como processo de interpretação, embora as crianças não tenham esta clareza, mas o professor poderá ter elementos importantes para a leitura.
A atividade três, não pensamos como propostas que possam auxiliar no conhecimento estético nas crianças desta idade, embora, se pudermos perceber “adjetivos” como qualidades ou defeitos, ou ainda sobre possibilidades de “sentimentos” presentes na obra poderemos fazer uso de suas respostas, para a interpretação.
Considerando nosso estudo na leitura de imagens e o amparo nas leituras indicadas podemos afirmar que o material analisado é um bom material, com uma dinâmica de interatividade bem construído para leitura, com algumas ressalvas que fizemos neste texto. Numa pretensão de julgamento não indicaria para professores que ainda não possam fazer uma seleção embasada com referenciais teóricos e reflexões.O material em alguns momentos permite que os estudantes exponham sua compreensão de arte e outras situações acaba interferindo neste processo e servindo ao professor como “um guia” realmente.A imagem “Menina Sentada”, poderia ser “explorada” de maneira mais intensa, considerando os leitores em foco, anos iniciais.As questões sobre contexto formal e histórico seriam irrelevantes e neste sentido negativo sua presença neste material.Considerar suas construções,não podemos “apontar metáforas” como nos diz Maria Helena Wagner Rossi, em nosso material de estudo, quando nosso pequeno leitor ainda vê o concreto não estimula seu desenvolvimento estético.Ensinar “um vocabulário estético” é um exercício de respeito e escuta atenta de nossos alunos .A construção de significados não pode ser permeada de nossas idéias, onde novamente a professora Maria Helena Wagner Rossi, no material de apoio de nosso estudo, nos aponta como “egocentrismo” (pressupomos que eles vêem o que nós vemos) e elitismo (como se a arte fizesse parte do cotidiano de todo mundo).
Nosso caminho de reflexões como mediadores em arte, deverá ser um percurso de estudo, análise, busca de referenciais teóricos e escuta a “fala” de nossos alunos, respeitando sua compreensão para podermos “ampliar olhares”.


Referências Bibliográficas:
BARBOSA, Ana Mae, Educação e desenvolvimento cultural e artístico. Educação e Realidade, Porto Alegre, p. 9 – 17,jul./dez. 1995
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que Falam: Leitura da arte na escola. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003.
PARSONS, Michael J, A arte como modelo de compreensão. Arte & Educação em revista, Porto Alegre, p.61 – 69, out. 1997
ROSSI, Maria Helena Wagner. Discussão estética na escola. Disponível em http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14583 Acesso em 15/052011
Aidar; Chiovatto. Ler Imagens. Arte +. Disponível em http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14411 Acesso em 1205/2011.

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