sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mídia e Educação

Estudo de Caso: Propaganda Televisiva - Massageador Elétrico Sculptor



Sabemos que a imagem é um poderoso instrumento de disseminação de idéias e conceitos e, certamente as mídias fazem uso dela para suas campanhas de marketing. A cultura vivida pelo aluno de hoje, pela sociedade de hoje se caracteriza cada vez mais pela saturação de imagens, onde a maioria das informações que recebemos chega através delas.Neste cenário, aparecem as imagens da televisão,propagandas, videogames,capas de CDS, etc.Somos, portando “compostos” pelos olhares e escutas deste mundo imagético,que define modelos e constrói o ser humano.

As imagens e suas significações especialmente, as televisivas são formadoras de uma “comunidade de consumo”, conforme nos sugere o texto de Rosa Fischer, Educação, subjetividade e cultura nos espaços midiáticos. Este consumo, entendido não só como a compra de produtos, mas com um compromisso de concepções, um consumo de valores que definem a ética e moral dos grupos, especialmente os jovens.São determinações sobre o modo de vestir, sobre os valores que determinam o sucesso, sobre marcas melhores e mais eficazes, sobre o modo de vida que nos levaria ao estado de total felicidade.Este “simulador” de felicidade, torna-se o objetivo principal das imagens e seu apelos de venda.

Os meios de comunicação e as mídias nas mais diversas formas são determinantes para a construção de um homem ideal, percebido nesta ótica. Para que a felicidade seja possível devemos ser ou estar magros, possuirmos tal carro de tal marca,alimentar-se em tais restaurantes, viajar para tais lugares,gostar e ouvir determinadas músicas.São muitos itens que invadem nosso cotidiano sugerindo adesões.Estes produtos que promovem este bem estar pode tornar-se efêmero quando um novo produto puder substituí-lo com maiores potências e qualidades.

Esta identidade que a mídia define de forma sutil, através das novelas, dos programas televisivos, da música, dos noticiários, das embalagens de produtos em geral, dos jornais e revistas é concebida de forma “quase” involuntária. Formamos uma sociedade baseada no consumo pelo excesso de informação e pouca crítica deste cenário.A necessidade de ser aceito no grupo, especialmente dos jovens, a auto afirmação a procura de uma identidade comum provoca uma submissão a estas propostas.

Um ponto de muita relevância neste assunto são as propagandas da televisão. Inúmeras e focadas no espectador do programa deste ou aquele horário, como as crianças . Os comerciais colocam imagens no ar usando ícones e estratégias de sedução. A apresentadora Xuxa, por exemplo, num cenário de sala de aula , com tintas, lápis coloridos e papéis, com algumas crianças, sugere, uma “diversão”.Abandonam os materiais e viajam num belo e colorido arco íris para encontrar o “Lap Top da Xuxa”.Sedutor.

Um dos pontos de maior marketing para as propagandas é o culto ao corpo, nas suas mais diversas propostas. Existem propostas milagrosas, que nos transformariam numa “nova mulher”rapidamente.

Um dos tempos usados com maior desperdício são as vendas do Polischop. Neste caso, apresenta-se o “Sculptor”.Trata-se de um massageador elétrico que faz massagens rotativas e circulares com muita potência capaz de transformar medidas em minutos.A cena apresenta-se inicialmente com mulheres gordas com um close nas muitas celulites.Em seguida , uma entrevista com um médico e uma fisioterapeuta que nos informam sobre a absorção de gorduras e assuntos que qualificam o entendimento e o aval científico do produto.Imagens de três mulheres gordas, medindo a perna, o braço e a cintura com um belo foco na medidas da fita métrica.As medidas são exaltadas pela apresentadora que sugere o uso do “Sculptor” e promete novas medidas no final do programa.As mulheres sorridentes aceitam o desafio.Um outra mulher, num outro ambiente, um quarto com roupas, mostra o abandono de roupas prediletas por que está muito gorda, “perdeu a alegria” de viver e não consegue fechar o zíper de uma bela calça jeans de sua estimação.A imagem é focada na cintura da mulher com o zíper aberto , que afirma ainda, que não gosta de exercícios físicos.Usa o massageador e em seguida “perde” 5 cm de cintura, podendo fechar o zíper da calça, exaltando as qualidades da massagem e o massageador .É sugerido uma promoção que acompanha o produto inicial, que é um gel redutor,além de um remédio chamado “Tak Gold” que elimina gorduras , rapidamente.Testes garantem a eficácia das massagens através de imagens de belos laboratórios. Finalmente voltamos às imagens das mulheres que usavam o aparelho desde o início do programa que aparecem exultantes com o resultado. Reduzem de 4 cm até 10 cm nos lugares massageados, e a imagem foca na fita métrica novamente nos dando a certeza das afirmações, e portanto as mulheres podem sorrir, pois encontraram um verdadeiro milagre.Logo estarão fazendo parte do grupo de mulheres felizes e “magras.”Tudo acaba bem , então é fornecido o telefone para contato e compra do Sculptor.

A abordagem torna-se agressiva, é longa, e propõe imagens fantasiosas e até surreais. Um culto narcísico que poderá ter a conivência das mulheres mais gordas.Perder gorduras, e poder fazer parte do “time” de modelos, dos estereótipos atuais, sem exercício físicos e com esta rapidez , com certeza é uma grande proposta.

As questões pertinentes as mídia devem ser currículo e conteúdos de nossas salas de aula. Além das políticas públicas e ações coletivas, cabem a nós mediadores de processos de aprendizagens, apontar caminhos e pensar estratégias para desenvolver a consciência crítica de nosso alunos.A construção de conceitos deverá fazer parte de nossa reflexão constante.Situações do cotidiano são ferramentas importantes para intervenções.Nosso olhar atento para questões, a relevância dada as imagens da mídia podem determinar grandes oportunidade de desconstruções imagéticas.

A s abordagens que podemos fazer em nossas aulas, especialmente na arte, com a leitura de imagens, com o contexto, com as produções, com os argumentos e elementos formais e informais deste cenário são imensas. A leitura crítica.dos programas, das novelas, da televisão como um elemento comunicador ,não pode ser renegada , mas re elaborada,questionada e colocada na discussão de nossos alunos.Não temos como retroceder o processo de desenvolvimentos das tecnologias,mídias e suas inovações, na globalização, mas necessitamos nos colocar inseridos neste processo.Um olhar atento,demorado, a leitura de imagens.Desenvolver as capacidade de olhar, eis nosso objetivo.

Lembrando, Ana Mae Barbosa (1995) diz que a leitura de imagens na escola prepararia as crianças párea a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na aula de artes ou no cotidiano, e que torná-las conscientes “da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-la para compreender e a avaliar todo tipo de imagem, conscientizando-as do que estão aprendendo com estas imagens” (p.14).

Referências Bibliográficas:
FISCHER, Rosa. Educação, subjetividade e cultura nos espaços midiáticos
BARBOSA, Ana Mae, Educação e desenvolvimento cultural e artístico. Educação e Realidade, Porto Alegre, 1995

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