quinta-feira, 26 de julho de 2012

Arte, Espaço e Cenografia

Arte, Espaço e Cenografia

Relações que podem existir entre artes visuais e cenografia...

Para buscarmos uma reflexão entre a relação de artes visuais e cenografia nos cruzamos com uma compreensão do teatro como arte “espacial”. Todos os acontecimentos ocorrem no espaço, no palco,mesmo no cinema ou na televisão há uma dinâmica de “cena”.A composição deste espaço passa pelo tratamento da cor, da luz , do espaço e da forma.

Antes a cenografia servia apenas como ilustração do texto, mas hoje ela é parte deste texto, uma função especial e mediadora do público com a intenção. Se buscarmos um pouco da história da cenografia teremos muitas mudanças desde a Grécia onde a intenção era da cenografia enfeitar, de adornar as apresentações teatrais.Mais tarde no Renascimento na forma de pintura, como fundo utilizando-se da perspectiva e ainda como parte decorativa.No Barroco a idéia do ilusionismo coloca a cenografia num plano diferente .

Antes das idéias modernas da escola de Bauhaus, o palco era um espaço cênico imóvel e congelado e o cenário tornava-se também imobilizado, fixo. Com o surgimento e a influência de movimentos , como o Futurismo e o Abstracionismo, caracterizados por velocidade e simbolismo, surgiram novos conceitos para a forma e a cor, novas relações entre espaço e o homem.Podemos instalar uma primeira possibilidade de inter relação com artes visuais nesta primeira compreensão.

Nesse sentido, o palco adquiriu uma nova dimensão: um lugar onde os acontecimentos ocorrem em movimento de formas e cores. A cenografia percebida como mediação, que articula objetos, materiais, ocupa uma área e estabelece relação com o público. É um espaço vivo e participa do conceito da produção, da intenção da cena , da identidade visual que se propõe.A produção de sentido pode ser uma característica da cenografia.

Poderíamos nos aproximar da linguagem plástica instalação? Um ambiente construído num espaço, e que lança mão deste espaço com auxílio de materiais diversos, ou com objetos dispostos intencionalmente, para estabelecer uma relação com o observador? Esta instalação que pode construir ou evidenciar conceitos, provocar, convidar o público para interação, é também uma composição visual. Tanto para a instalação como para a cenografia o espaço torna-se elemento fundamental na obra.

A cenografia como um elemento visual participa do espetáculo num processo mediador entre o público e a representação, participa como o texto e a ação humana. Representa além da decoração e da ilustração , sua construção pode definir a cena .Mais uma vez podemos relacionar nosso pensar com artes visuais, quando buscamos Duchamp, que reinventa , tira o objeto do seu lugar tradicional e o recoloca com intenção.O artista também está questionando este espaço físico, neste momento o espaço do museu, o lugar da “cena”.Quando visitamos Imhotim , o centro de arte contemporânea e nos encantamos com Hélio Oiticica, “Invenção da Cor – Penetrável Magic Square, S de Luxe, 1977”, poderíamos estar num estudo cenográfico, luz sombra, cor e encantamento dialogando conosco.A organização do espaço, a luz, as cores, a disposição das paredes, os materiais, as diversas texturas, enfim o espaço redimensionado.Uma bela “cena”.

As artes visuais podem interagir com a cenografia de forma direta quando obras de arte fazem parte da cena, a obra em si materializada compõe o espaço. Nos remetemos a mini série “Hoje é dia de Maria” da rede Globo dos autores Luiz Fernando Carvalho e Luiz Alberto de Abreu,onde a relação com artes visuais aconteceram desde a cenografia , com um painel pintado à mão até a composição de personagens baseados em obras como Portinari e Toulouse de Lautrec.Uma obra da visualidade pode servir de inspiração para o texto do teatro,cinema ou televisão e também estaremos utilizando o inter texto das artes visuais, como temos vários filmes protagonizados por artistas e suas obras participam da cenografia .Um exemplo bem atual pode ser o filme “Meia Noite em Paris”, de Woody Allen.Ainda as artes visuais podem relacionar-se com a cenografia quando fazem uso de elementos como a perspectiva, a luz, cores, formas, texturas, espaços,planos ou recursos digitais que são também da linguagem visual.

Escolha de um cenógrafo, sua produção cênica e a relação entre arte visual e cenografia.

Félix Bressan, na cenografia de Prometeu, 2002, de Falos & Stercus coloca sua criação como cenografia, compondo e dialogando com o público. A obra é a cenografia.Este grupo teatral está inserido na chamada “cena contemporânea” brasileiras e suas pesquisas propõe novos paradigmas da dramaturgia, estéticos, da interpretação e espaciais.Neste contexto Félix Bressan participa literalmente do espetáculo quando o cruzamento de artes visuais com a cenografia torna-se de certa forma “óbvio”.Há uma cumplicidade na estética deste espetáculo:www.Prometeu,2002.Uma profunda investigação espacial.

Um texto contendo dados biográficos e principais trabalhos do artista/cenógrafo – imagens

Felix Bressan -(Caxias do Sul, 1964) - Escultor, cenógrafo e professor universitário, Felix Bressan é dos nomes mais importantes do cenário artístico brasileiro, tendo sido finalista, em 2006, do Prêmio Mario Pedrosa, conferido pela ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) a um artista contemporâneo de destaque.

Formado em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992), com Mestrado em Poéticas Visuais pela mesma instituição (UFRGS, 1996), Felix iniciou sua trajetória em 1979, em Caxias do Sul, junto à pequena empresa de sua mãe. Trabalhava com modelagem e confecção de vestuário, permanecendo nesta função até 1990. Tal experiência foi marcante, influenciando toda uma série de trabalhos posteriores.

Felix traz em seu currículo várias mostras individuais, como na Galeria Thomas Cohn, no Rio de Janeiro e em São Paulo, na Bolsa de Arte, em Porto Alegre, e no Centro Cultural São Paulo. Entre as principais coletivas, destaque para a exposição Antártica Artes com a Folha e Por que Duchamp, ambas em São Paulo, além de sua participação nas três primeiras edições da Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL, em Porto Alegre.

Como cenógrafo, trabalhou para as peças As Núpcias de Teodora, com direção de Décio Antunes e texto de Ivo Bender; Rei Lear, com direção de Nestor Monastério; Ano Novo, Vida Nova, de Vera Karam, com direção de Décio Antunes; In Surto, do grupo Falus & Stercus; Novena à Senhora da Graça, de Theodemiro Tostes; Maria Degolada, dirigida por Camilo de Lélis, e para as óperas Carmela, de Araújo Viana, e Boiúna, de Walter Schültz, ambas as montadas pela OSPA, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Em 2000, recebeu o Prêmio Açorianos de Teatro, como melhor cenário, para a peça As Núpcias de Teodora.Atualmente, além do trabalho à frente de seu atelier, em Porto Alegre, Felix Bressan é professor junto ao curso de Design do UniRitter, em Porto Alegre, e dos cursos de Moda e Estilo e de Tecnologias Digitais da UCS, em Caxias do Sul.

Imagens:

 
cenografia de Felix Bressan - WWW Prometeu- Grupo Falos & Stercus - 2002
cenografia de Felix Bressan - WWW Prometeu- Grupo Falos & Stercus- 2002
cenografia de Felix Bressan - WWW Prometeu- Grupo Falos & Stercus- 2002


As Núpcias de Teodora,1874 de Ivo Bender, 2000 – Cenografia de Felix Bressan




Descreva, a partir de uma das imagens escolhidas da produção do artista/cenógrafo, onde ocorre a relação entre artes visuais e cenografia.

A imagem escolhida é a cenografia de Felix Bressan - WWW Prometeu- Grupo Falos & Stercus – 2002





Vamos acessar Merleau Ponty para nos aproximar da criação de Félix Bressan e seu cruzamento na cenografia de www Prometeu.Merleau Ponty nos fala de uma troca “dialética entre o visível e o invisível”, ou seja o que é visível supõe o invisível, ocorrendo também o inverso.As esculturas de Bressan nos oportunizam esta reflexão de dualidade.A ocupação do espaço, a dimensão, à proporção que ocupam, o conjunto ,os movimentos que nos seduzem a interagir.Como o artista/cenógrafo articula os materiais diversos nos causa um pouco surpresa e momentos de relaxamento e satisfação quando nos colocamos imersos neste espaço.

As criações do grupo Falos & Stercos levam a “teatralidade até as últimas conseqüências”.Eles desafiam limites e nesta espetáculo www Prometeu as linguagens circenses e teatrais aparecem numa fusão.A informática apresenta-se como uma das formas de interação entre atores e público.O texto faz uma releitura do mito clássico grego, Prometeu Acorrentado de Ésquilo.Numa adaptação amparada em grandes pensadores modernos o grupo transforma Prometeu num hacker e discute a revolução virtual, a teoria do pensamento complexo, do caos e a cognição humana.Um teatro desafiador é a característica de Falos & Stercus, no sentido de propor novos paradigmas estéticos e de interpretação, além da espacialidade como argumento fundamental de suas encenações .O espaço diverso e inusitado, o não convencional .

O grupo teatral questiona o espaço como Félix Bressan, considerando nosso tempo com enorme apelo visual a cenografia de www Prometeu apresenta-se como elemento fundamental para o texto, para o entrelaçamento da linguagem na arte contemporânea.Questionar o público com a ocupação do espaço com suas esculturas que possuem um forte apelo visual, tanto pelo desenho em si, como pelos movimentos.É uma cenografia de composição, de reconstrução e também de deformação: articulação da escultura com seu entorno.A re leitura de Prometeu de Ésquilo, com um hacker atual, uma encenação que questiona as mudanças estruturais que a tecnologia virtual vem provocando na humanidade.

São cenas contemporâneas e o artista/cenógrafo Félix Bressan participa com esta proposta, com a intenção de espaço re construído.A relação de artes visuais com a cenografia é direta.Desafiar limites, ousar,e propor estranhamento e reflexões, emitir conceitos, instigar o espectador.O visível e o invisível.



Referências:

Merleau Ponty.Maurice. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1992 http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Cinema%20V%EDdeo%20e%20TV/artigos/a_influencia_das_artes_visuais_nas_direcoes_de_arte_e_fotografia.pdf

http://www.fundacaoecarta.org.br/galeria/felix.htm

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/Enc_Artistas/artistas_imp.cfm?cd_verbete=1738&imp=N&cd_idioma=28555

http://www.falosestercus.com.br/index2.html

http://ocupacaocenica.blogspot.com.br/2008/11/falos-stercus.html

http://www.spescoladeteatro.org.br/enciclopedia/index.php/Falos_%26_Stercus

http://wagnerpinto.tripod.com/galeriafotoseis.htm













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