Por uma abordagem metodológica da pesquisa em artes visuais,
segundo Sandra Rey
Com o texto de Sandra Rey, vocês agora vão preparar um Pré-projeto, ou seja, lançando um tema de pesquisa em arte e ensino.
DESVELANDO
POÉTICAS PESSOAIS COM ARTE CONTEMPORÃNEA NA ESCOLA
Neusa Lorení Vinhas*
Resumo:
Desvelando poéticas pessoais com arte contemporânea. Este
artigo pretende abordar reflexões sobre
o desafio de ensinar arte contemporânea na escola .Nos remetemos a
um cenário distante de aprendizagens
significativas em arte e das possibilidades ensinar alunos
com um vocabulário reduzido ou equivocado nas linguagens da
arte.Meu percurso de pesquisa investiga
projetos onde atuamos como mediadores e
as questões da docência do professor pesquisador.
Palavras-
chave: arte contemporânea, identidade, poéticas pessoais,
docência
Muitas questões fazem parte de nossas
reflexões sobre ensinar arte na escola, desde as concepções a cerca desta área
de conhecimento até as dificuldades apresentadas por muitos professores sobre a
estrutura e materiais nas escolas. Somos parceiros no entendimento destes
problemas, mas não compactuamos com um prática distanciada da pesquisa e da
crença que todos podem aprender.
Desde
os primórdios de nossa existência, como espécie, vimos aprendendo, por
experiência que o contato com a arte e seus conteúdos proporciona aos nossos
olhos novos modos de ver e compreender a realidade, modos esses capazes de
desvendar não apenas aquilo que somos, mas também muito da matéria de que a
própria realidade se constitui. Investidos do papel e da função de educadores
de arte, uma nova dimensão acrescenta-se para nós: a da construção sensível de
nossa competência para mediar outros olhares e encaminhá-los à auto compreensão
do mundo e seus mistérios.(BUORO, 2002, p. 59).
Professora de artes na Escola de Ensino Médio Guia Lopes e Colégio Nossa Senhora Medianeira em Candelária - RS – Email: neusavinhas@hotmail.com.br
O contexto das escolas em muitas
realidades não privilegia o ensino de artes, desde a locação de tempo até os
profissionais não habilitados. Neste sentido podemos pensar que esta questão da
desvalorização acaba afetando o ensino de artes na escola.A ação do professor
se desloca para aporte de outras disciplinas ou para uma estudo de história da
arte onde persiste um modelo que contempla o levantamento das características
do movimento artístico , a descoberta da biografia do artista , as condições em
que a produção foi criada ou ainda a temática social que a imagem pode apresentar.A valorização destas
questões desvia o sentido do ensino da arte, de seus códigos específicos , de
sua aprendizagem pela arte, pelo contato do aluno com o conhecimento sensível
de si e do outro.Um exemplo que podemos citar de um artista que é conhecido mais pela
biografia do que pela produção é Van Gogh, presente em muitos repertórios de
nossos alunos.Presenciamos em diagnóstico recente com uma turma de EJA, da
escola pública:
Profe conheço de artista o louco aquele que cortou a
orelha, e não vendeu nenhum quadro a vida toda. Sei que o cara era meio louco e
que só pintava o pessoal do hospital.Se pintou com a orelha cortada e morava
com outro pintor.Sei que as telas deles são as mais caras do mundo e que ele
nem comia pra comprar tintas.Ah, e o irmão dele sacaneou quando ele morreu
e começo vender as telas bem
caras.(Diagnóstico para projeto de estágio,aluno da TOT 9, 2012)
Um olhar que aponta para a construção da
biografia que supera o interesse e o valor da produção do artista. Uma
concepção de docência equivocada que reflete outras questões onde a arte não é
ensinada, mas focada num fazer informativo.A arte necessita provocar
perturbação , propor experiências e não transmitir informação.Segundo Larossa(2001) “A experiência é o que nos
passa, o que nos acontece, o que nos toca.Não o que se passa, não o que
acontece, ou o que toca.”
Neste cenário acreditamos que seja de
muita importância uma reflexão na docência em artes. Rever a prática e pensar
as possibilidades no ensino.Vemos o
professor pesquisador como agente desta
mudança.Reiteramos a importância de uma mediação que coloque o aluno diante de um ensino da arte com possibilidade de apropriação dos códigos gramaticais
específicos de cada linguagem,suas diversas maneiras de composição e
contextualização, no tempo e no espaço.O aluno realizando dialogando com o mundo:”ler,
compreender, refletir,expressar e
criar”.Retornamos a Buoro
(2002),”Só conseguimos ensinar aquilo que sabemos”.Necessitamos
investigar,buscar,ampliar nossa repertório ensinante, nas mais diversas
formas.Ousamos afirmar que dependem deste olhar as mudanças no ensino de arte nas escolas.Nenhuma
outra condição é mais relevante que o preparo do professor construindo um
espaço de fruição,reflexão e ação.O professor é o primeiro pesquisador de sua
aula,planejador,apreciador de arte,organizador da aula e do espaço,estudioso da
arte,profissional da escola,incentivador da produção,estimulador do olhar
crítico ,inventor de formas de apreciação ,de idéias e sugestões dos
alunos.Criar um ambiente surpresa,propor experiências de
estranhamento,Valorizar poéticas pessoais,expandir o processo criativo,inspirando,
mediando, instigando as ações.Necessitamos metodologias que nos amparem e
necessitamos paixão e afeto pela arte, pelo ensino e pela possibilidade de ensinar.
Este olhar demorado para a
importância do professor mediador demanda um desafio constante. Nossa antiga
formação acadêmica coloca-se distante desta perspectiva, os cursos
superiores de formação são escassos e em muitas escolas as aulas de
artes fazem parte de “preenchimento”
de carga horária e a re construção destes saberes torna-se
processo lento e difícil.Diante deste cenário ,consideramos nossa concepção da
relevância do ensino de arte contemporânea na escola pelas possibilidades que
pode oferecer e pela conclusão pessoal de práticas desenvolvidas ao longo de
nossa caminhada como professora.
Levar a arte contemporânea para a
sala de aula significa oportunizar reflexões, discussões, debates com a
realidade, seus dilemas e problemas. No questionamento que os artistas fazem,
nos diversos suportes,materiais e espaços podemos mediar junto com os alunos as
questões do mundo em que estamos inseridos.Os estranhamentos, os conflitos, as
ironias que a produção contemporânea pode propor contribui para uma re
construção de muitos conceitos implícitos culturalmente.A arte contemporânea aproxima o aluno de uma interação , também
proposta pela diversidade tecnológica e o mundo midiático.A arte sai do espaço
“museu” considerado muitas vezes de
difícil acesso para ocupar ruas e espaços alternativos e também convida os
observadores a fazer parte desta obra através de provocações.Este movimento ,
esta efemeridade da arte , das linguagens contemporâneas podem ser grandes aliados para nossas aulas terem
significado.
Temos algumas experiências positiva
com este percurso. Nossas especulações fazem parte de uma escuta particular.Com
alunos da EJA, neste ano, nos amparamos em retratos e representações
contemporâneas para ensinar arte.A fotografia, as contradições entre o belo e o
feio e a busca de identidade de alunos trabalhadores.Uma
inserção ao mundo da arte onde não havia repertório construído.Memórias ,
histórias e poéticas pessoais
construídas lentamente num processo de
encantamento e significados.O espelho, O reflexo, a identidade,desejos e sonhos
com os recursos encontrados por artista da contemporaneidade.Dois lados,
contrapontos e possibilidades de ensinar arte.
Concordamos com o fato de que a arte e as atividades
artísticas contribuem para o desenvolvimento de algumas competências que
expandem a capacidade de dizer mais e melhor sobre o universo pessoal do aluno
e sobre o mundo. Por isso, a disciplina de artes deve ser encarada como uma
área de conhecimento comprometida com a formação cultural dos mesmos, não
apenas como um momento de lazer e diversão, tendo em vista que “atualmente a abordagem mais contemporânea de
Arte/Educação, na qual estamos mergulhados no Brasil, é associada ao
desenvolvimento cognitivo”(BARBOSA, 2005, p.17).
Retornamos a ousadia de afirmar que
a arte contemporânea é possível de ser ensinada no contexto escolar
independente das condições físicas ou materiais da escola. Pensamos que o
diálogo entre a arte e suas linguagens da contemporaneidade podem ser suportes
para significar a aprendizagem de alunos sem vocabulário construído num
processo de “instigar” olhares, de provocação. Afirmamos ainda sobre a
relevância do professor pesquisador para uma mediação de afeto e aprendizagem.
REFERÊNCIAS:
BUORO,
Anamelia Bueno. Olhos que Pintam: a
leitura da imagem e o ensino da arte.São Paulo: Cortez, 2002.
LAROSSA,
Jorge. Nota sobre a experiência e o
saber da experiência. In: Leituras – SME textos subsídios ao trabalho
pedagógico da Rede Municipal de Educação de Campinas?Fumec, n. 04, jul. 2001.
BARBOSA,
Ana Mae. Arte /Educação contemporânea:
consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
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