sábado, 28 de julho de 2012

Diálogo com John Berger



Nunca olhamos para uma coisa apenas; estamos sempre olhando para a relação entre as coisas e nós mesmos" (BERGER, 1999, p.11).
1-Como pensar a 1ª frase de Berger relacionada à pesquisa em arte e às imagens escolhidas por vocês para construírem as pranchas e mapas conceituais?
Difícil tarefa refletir sobre nossas escolhas, nossos olhares...
Buscamos um fragmento do Guardador de Rebanhos, um poema constituído por 49 textos escritos pelo heterônimo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro em 1914...
IX

Sou guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.


Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E Comer um fruto é saber-lhe o sentido.


Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado no realidade
Sei a verdade e sou feliz.
E, se Berger nos diz:
Ver precede as palavras. A relação entre o que vemos e o que sabemos nunca ficam estabelecida”
Pensamos nossas escolhas com inquietações. Olhar com o corpo inteiro, pensar nas escolhas com consciência, como ato de “escolher” nos causa reflexões importantes em tantas outras situações além desta proposta.Alguns percursos originalidade, sobre um olhar autêntico, ou influenciado. Um olhar afetado ou que afeta?
Em nossas escolhas estamos construindo uma narrativa pessoal, construída com nossa cultura, nossa visão de mundo ou nosso modo de viver. Nossas escolhas estariam repletas também de interesses pessoais,de nosso conhecimento prévio, de nosso vocabulário, de nosso repertório imagético.Estaria presente na nossa seleção, o que vemos e a maneira que vemos de forma consciente ,onde nossa bagagem simbólica, nossos desejos, nossa imaginação, fantasia e resgates de memória aparecerão na escolha feita.Escolhi Cláudia Andujar e uma série de fotografias de índios Yanomanis sendo vacinados.Agora , retorno ao processo antigo, quando coloquei esta imagem no mapa conceitual do professor pesquisador:Como cheguei a esta imagem? O que buscava para dialogar com outras cenas? Por que escolhi estas fotografias num universo imagético tão grande? Seria gosto ou desgosto? Afeto? Tema social? Resgate de valores além da própria imagem? Sedução? Sensibilidade aos “Marcados” das fotos? Causa comum à artista? O suporte inusitado? A linguagem da fotografia? A sedução pelo contemporâneo? O enquadramento que “fala” conosco? Interesses estéticos?Que conceitos elaborei quando busquei a proposta desta artista até então desconhecida? E os outros inter textos que buscamos a partir da imagem?
Não tenho respostas. Mas retorno com Berger:
"Nunca olhamos apenas uma coisa, estaremos sempre olhando para as relações entre as coisas e entre nós mesmos";
A maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos. Só vemos aquilo que olhamos. Olhar é um ato de escolha e tocar alguma coisa é situar-se em relação a ela”
Resta-nos também propor uma reflexão sobre a nossa maneira de interpretar e as relações do nosso modo de ver. As reproduções , os estereótipos, a “recepção passiva” de muitas imagens em nosso cotidiano.Os discursos implícitos na mídia que permeiam o cenário de nossas escolas desde a educação infantil e nos acompanham pela vida toda.Os modelos ideológicos, muitas vezes, que ocultam ou explicitam conceitos e relações.Processos onde os olhares são condicionados e as escolhas resultado de influências efetivas de outros.
Difícil tarefa construir um olhar. E, Adélia Prado...
”Deus de vez em quando, me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra.”
Imagem:
Cláudia Andujar,Série Marcados, 1981- 1983, fotografia-Políptico

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