


Link do site oficial do Filme:
http://www.wim-wenders.com/movies/movies_spec/pina/pina.htm
Pina Bausch é um filme documentário de Wim Wenders com a academia de dança Tanztheater Wuppertal. Trata se de um registro encantador da obra da dançarina coreógrafa alemã Pina Bausch que morreu de forma inesperada em junho de 2009 quando o projeto do filme já estava prestes a ser iniciado.Vítima de um câncer diagnosticado cinco dias antes de sua morte, a coreógrafa não conseguiu seguir a parceria com o cineasta na produção do documentário.Diante desta tragédia Win Wenders havia decidido cancelar o projeto, mas considerando as insistências dos seus colaboradores e a sua grande admiração pelo trabalho de Pina, a obra inédita foi concebida de forma mais intensa ainda.
“Tem coisas que nos deixam sem palavras.
E tem coisas que as palavras não dão conta
de dizer. É aí que entra a dança.”
Pina Bausch
Uma bela experiência este filme. Nesta proposta de estudo usei uma estratégia inversa que costumo fazer quando aparecem filmes de livros e me reservo o direito de primeiro ler para depois ver o filme.Meu conhecimento restrito sobre esta coreógrafa me levaram a assistir o filme sem garimpar informações ou contextos.
Um espetáculo encantador.
Esqueci meus “deveres”, meu objetivo ou minha proposta de ficar atenta para a cenografia, pois o filme consegue nos “transtornar”. Trata-se de um documentário inédito, sem linha de tempo, sem a costumeira biografia.É a obra.
Minha fruição realmente permitiu aproveitar a paixão do cineasta pela obra da coreógrafa e dançarina, pois se a “dança pode falar de qualquer coisa” como Pina dizia, Win Wenders nos proporciona esta idéia. É sentimento, na produção, na seleção na articulação de teatro e dança de forma intensa.
O filme apresenta trechos de grandes peças de dança de Pina no Tanztheater. São evidenciadas quatro peças:Inicia com a “Sagração da Primavera-1975 (Le Sacre du Printemps), Café Muller-1978, Tribunal de Contato ou Pátio de Contato (Kontakthof,),1978 à 2000 e Lua Cheia (Vallmond) ,2006.
Estes trechos são partes de uma viagem fascinante com entrevistas e coreografias realizadas em torno de Wuppertal, na Alemanha. Quase não vimos a imagem da coreógrafa no filme pois o foco é realmente a obra de Pina.Este diálogo com o mundo que a artista coloca na ruptura ou na re construção do conceito da dança é particular da sua obra quando é abolido o balé da forma clássica e os movimentos expressionistas provocam estranhamentos numa arte que se distancia do belo e do feio.A dança teatro que expressa a vida , que questiona o tipo de corpo além do modelo, que coloca movimentos “sinceros” nas coreografias onde beleza não era seu objetivo principal nos permite um deslumbramento imenso.Vemos corpos “famintos”, as roupas sujas, grupos assustados, homens e mulheres se confrontando. Se misturando, alterando posições, trocando forças muitas vezes. Percebemos uma fragilidade independente de gêneros ou uma força que se alterna ou se funde.As relações de homens e mulheres com padrões estéticos estranhos, provocadores.Talvez a opressão feminina e agressão masculina? Cada corpo se move de uma maneira particular nas diversas coreografias, com características particulares que nos confundem que mudam em momentos diferentes de músicas, movimentos, cores, cenários e figurinos. As roupas muitas vezes parecem “escorrer” nos corpos, nos dá idéia de liberdade , de leveza em movimentos bruscos ou em danças lentas ,quando percebemos a musculatura toda “concentrada” naquele lugar.
Em grande parte as cenas e os figurinos são minimalistas, mas imprescindíveis. O sócio de Pina Bausch Rolf Borzk, morreu em 1980 e Peter Pabst e Marion Cito continuaram com o trabalho de figurinos e cenários.São “funções” que percebemos como única nas imagens maravilhosas da dança.São espaços “poéticos” ,são paisagens expandidas que fazem parte de forma única de cada, cena.A água da chuva do cenário deixa os corpos mergulharem, brilharem, as roupas incorporam nos movimentos na luz, na cena enfim daquele momento.A água é a dança também.O cenário é a dança,é a arte. como disse Pina: ”Não me interesso em como as pessoas se movem, mas no que as move”. Cada fragmento das coreografias são ligados intensamente com os elementos que permeiam este movimentos,além do espaço físico.São sincronias, são essencialidades muito além do palco.Além do espetáculo que a água gerou, a terra também elemento natural participa dos gestos .Podemos observar os rastros dos bailarinos e seu envolvimento com a cenografia.Na Sagração da Primavera, é quase palpável esta relação e mais tarde numa cena onde é “jogada” terra” com uma pá sobre a bailarina percebemos esta unidade gestual e sua intensidade.Os espaços variam, os figurinos mudam, vemos tábuas de madeira,ruas,galpões,salões vazios,usinas desativadas,paisagens naturais e até um túnel grafitado com o trabalho dos Gêmeos.Cadeiras e mesas no “Café Muller) bastam para compor a cena de deslumbre onde uma performance com pessoa cega se desenrola em cenas de muito encantamento.São movimentos que afastam as cadeiras e mesas enquanto na parede as bailarinas com vestido brancos também realizam sua dança.
O filme de Win Wenders pode ser chamado de “homenagem”. É uma produção com a presença espiritual de Pina Bausch.Em imagens de arquivo vemos a bailarina em ação dirigindo e dançando.As cenas das quatro peças de dança são permeadas por entrevistas e depoimentos de bailarinos que contam um pouco a trajetória da artista e sua.Podemos entender um pouco a grandeza do trabalho de Pina quando nos relatos os bailarinos colocam a forma de construção das danças.Os bailarinos sempre colaboraram na construção com sua experiência:”Seja mais louca,solte-se, trabalhe com o coração”, são alguns conselhos da mestra.O cineasta Win Wenders propôs que cada colaborador pudesse dar seu depoimento e dançar com “seus próprios sentimentos”, como dizia Pina, para sua filmagem.Estas participações foram feitas nas diversas línguas denotando também o respeito pela pluralidade cultural da obra de Pina que construía muitos repertórios através de suas residências.Uma dança teatro não para ensinar mas para criar experiências fundamentais para o respeito às culturas, afirmava Win Wenders.
A participação dos bailarinos foi feita com muita emoção, pois sentiam a ausência de sua mestra e também a intensidade de sua presença. ”Dance,dance,dance,senão estaremos perdidos”,dizia a bailarina.Puderam oferecer à Pina suas palavras e seu momento criativo.Regina Advento por exemplo, brasileira integrante da escola ofereceu” leveza do movimento “à sua mestra numa coreografia que pulava sobre cadeiras num belo campo.Cena Maravilhosa.
Espero ter realizado a proposta. Grande experiência.“Se você quer entender, sinta”,Pina Bausch.
Referências:
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2012/04/bailarina-brasileira-da-companhia-de-pina-bausch-fala-sobre-o-filme-3713006.html - acesso em 17/06/2012
http://sul21.com.br/jornal/2012/03/pina-bausch-bela-e-visceral-tragica-e-esperancosa-sua-arte-renasce-em-filme/ - acesso em 17/06.2012
http://oglobo.globo.com/cultura/coreografa-alema-pina-bausch-morre-aos-68-anos-3128891 - acesso em 17/06/2012
http://colheradacultural.com.br/content/20110416122656.000.5-N.php - acesso em 17/06/2012
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